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Crônicas Ocultas do Clã DBOF: Cap1 – Pt3

cronicas-ocultas 

Por: M. Barreto

Capítulo I:  Cicatrizes

Denis acordou disposto naquela manhã. Preparou o café da manha para os três moradores da casa. Pual adentrou à cozinha bocejando e recebeu sua comida em sua tigela em forma de gato. A porta dos fundos se abriu e Denis se preparou para atirar.

–        Ei, calma, sou eu! –falou o Doutor com um sorriso despreocupado no rosto.

–        Não faça isso Doc –disse o Cyborg guardando a arma de seu braço. Posso acabar te matando um dia.

–        Em breve meu caro, não precisarei mais me preocupar com seu braço mecânico ou suas armas que ajudei a criar…

–        Inventou um campo de força agora –ele começou a rir e o Doutor sentou-se na mesa ao lado da comida de Pual e deitou o pé ao lado do gato que começou a roçar nele.

–        Você pensa pequeno, amigão –falou ao receber o prato de torradas, olhando para os olhos de Denis. Você, como todos, julga o improvável como impossível e não  acredita em milagres.

–        Milagre? –retrucou Denis. Deus esqueceu desse mundo, Doc.

–        Bem, vou te falar um pouco sobre os milagres meu bom… –endireitou-se na cadeira e pegou o chocolate quente e uma torrada. Milagres ocorrem quando alguém tem fé…

–        Já disse que Deus… –interrompeu Denis, sendo também interrompido.

–        Fé é acreditar em algo à despeito das evidencias, Denis Son –falou firme. Você pode sim ter fé em Deus, mas também pode ter fé em muitas outras coisas. Ter fé que o dia vai amanhecer novamente, mesmo quando uma nuvem de fumaça que mataria até aos dinossauros paira sobre nós. Fé de que há pessoas que ainda fazem o bem nesse mundo. E a mais importante, a Fé em si mesmo. Sem acreditar piamente que algo é possível, esse algo dificilmente se realizará.

–        Mas mesmo acreditando que minha amada Karol sobreviveria, ela morreu não foi? –disse sem alterar a voz, mas com muita força ao pronunciar o nome.

–        Todavia, eu não disse que obrigatoriamente acontecerá. Disse que será mais difícil de acontecer se não tiver fé –bebeu um gole de chocolate e voltou a olhar para Denis. São coisas diferentes, amigão.  Quando eu o encontrei você estava morto. Eu o ressuscitei.

Denis estava de costas lavando a louça. Parou e voltou-se para o Doutor. Puxou uma cadeira e se sentou.

–        Não me lembro ao certo como nos conhecemos e nem quando aconteceu… aquilo – Denis pôs ambas as mãos na mesa, segurando firme uma na outra.

–        Faz dez anos desde que nós nos encontramos pela primeira vez. Nos conhecemos pela comunidade virtual conhecida como “DBOF” –o Doutor cruzou os braços. Desde 2008, eu, você e um bando de outros desocupados, desajustados ou  debilóides se juntou nos recantos da Internet para aguardar um filme besta.

–        Fala como se fôssemos idiotas aguardando uma idiotice, por acaso não gostava? –rebateu Denis.

–        Muito pelo contrário, eu adorava aquilo –disse com um largo sorriso. Foi uma das épocas mais felizes da minha vida e eu fiz amigos de verdade lá, como você por exemplo. Perceba que eu disse “ou”, porque todos ali eram uma coisa ou outra, em um grau maior ou menor. Você, assim como eu, era mais um desajustado procurando um lugar no mundo, mesmo que não nos déssemos conta disso.

–        Pensou muito na DBOF nesses anos?

–        Sim, todos os dias, há dez anos –tomou o chocolate e devorou a torrada.

Ficaram sentados alguns segundos em silencio até que Denis perguntou entusiasmado com a conversa franca que não tivera há anos.

–        E como nos encontramos pela primeira vez?

–        Foi numa festa em 2011. Alguém pagou todas as despesas para que 25 membros ativos da DBOF fossem à São Paulo se encontrar. Lá, pela primeira vez você encontrou a Karol, com quem já namorava há muito tempo pela Internet.

–        Eu… me lembro vagamente… –seus olhos brilhavam. Quem pagou tudo?

–        Dario, o fundador da DBOF.

–        Dario? Esse desgraçado reuniu a DBOF?

–        Ele já tentara desfazer a DBOF uma vez, mas agora disse que queria se redimir de uma vez por todas. É claro, que nem eu, nem ninguém sabia que era ele quem havia mandado as passagens e as hospedagens para nós.

–        E o que ele queria de verdade?

–        Se redimir, por incrível que pareça…

–        O que? –exclamou alto Denis quebrando o prato à sua frente. Desculpe o nervosismo.

–        Relaxa, pratos quebrados não vão importar daqui a pouco. Ele queria que sobrevivêssemos ao holocausto iminente. A DBOF era seu lar e só seria feliz sabendo que estaríamos bem, mesmo pessoas como eu que só participariam ativamente tempos depois de sua saída do cargo de líder.

–        Ele havia saído? E depois voltou para tentar nos destruir?

–        Sim, ele deixou tudo com outro membro e saiu, por motivos desconhecidos por mim e voltou para se vingar por sua garota ter sido expulsa após uma série de discussões –Denis pareceu lembrar de algo e então o Doutor continuou. Estávamos todos lá quando uma redoma se ergueu sobre nós, fechando todo o salão com um grosso metal e eles dois desceram por longas escadas com muita pompa e sorrisos no rosto. Todos estávamos atônitos e queríamos explicações.

Veja também:  Crônicas Ocultas do Clã DBOF: Cap 4 pt 1

O Doutor lembrava de cada palavra que foi dita por todos aquela noite.

–        Vocês todos estão seguros aqui comigo e Lucy, enquanto o mundo que conhecemos e odiamos se incinera lá fora. Daqui há 30 dias quando a temperatura do ar diminuir há níveis aceitáveis, iremos para minha fortaleza no Norte –disse Dario com expressão de satisfação no rosto. Seremos uma família afinal!

–        Nós queríamos pegá-lo e matá-lo. Ele acabaria com o mundo, não sabíamos como mas ele faria –disse o Doutor fitando os olhos de Denis. Homens com armadura metálica que recobriam todo o corpo nos pararam e começaram a nos empurrar para o meio do salão. Dario e Lucy não entendiam o porquê da nossa revolta. Eles se esconderam e depois ouvimos um barulho de helicóptero se afastando. 30 minutos depois –ele parou abruptamente e olhou para Denis. As paredes não se mostraram tão fortes quanto eles achavam que seria.

Denis estava calado e procurava lembranças, mas não havia nenhuma.

–        Eu acordei pouco tempo depois da explosão. Havia muita poeira e eu gritava para ver se alguém tinha sobrevivido –fitou o rosto de Denis e depois desviou o olhar para Pual. Só eu estava vivo. Vi todos os corpos e apenas um tinha pulso carotídeo, o seu. O seu coração agonizava, então comecei a massagear seu tórax. Deprimindo 5 cm, 100 vezes por minuto. Seu coração voltou a bater meia hora depois.

Denis pôs a mão sobre o precordio e sentiu o coração bater forte. Fitou o Doutor com surpresa. Sempre achou que tinha morrido em algum ato heróico.

–        E as partes mecânicas?- perguntou um pouco chocado ainda.

–        No andar de baixo havia uma sala com material médico. Eu te levei para lá e também a um dos caras de armadura. Eu olhei armadura e vi que ela tinha uma espécie de suporte de vida e… –ele sorriu como se fosse óbvio.

–        Você me vestiu com ela e eu nunca mais a tirei, não é? –entendeu Denis.

–        Mais ou menos. Conforme o tempo passou seu braço esquerdo e suas duas pernas necrosaram. O Seu rosto estava com uma enorme ferida que não cicatrizava e em algumas semanas você teve uma infecção ocular que o deixou cego –falava quase que sem emoção. Eu já tinha começado a estudar física e robótica avançada em livros do acervo das faculdades. Muita coisa  foi destruída, mas havia muito a ser resgatado.

–        Eu estava em coma? Não me lembro de quase nada desse período.

–        Sua mente sofreu um dano terrível como na maioria dos que sobreviveram… –falou olhando para o teto com um leve malicioso. Lembra da mulher que dizia ter sido abduzida por Ets e mandada para esse mundo destruído?

–        Lembro bem dela–estranhou Denis.

–        Você e ela tiveram o mesmo problema, a diferença é que ela preencheu o vazio da memória com falsas lembranças.

–        Entendi…

–        Venha comigo… –disse o Doutor se levantando jovialmente e com um grande sorriso no rosto.

Denis seguiu o Doutor até seu laboratório. Enquanto desciam as escadas e as luzes eram acesas, o Doutor falou alto.

–        Enquanto o tempo passava, eu me imbuia cada vez mais da missão de mudar este mundo e torná-lo tão exuberante e lindo quanto antes –Saltou pelo corrimão da escada até o sofá. Hoje, pelo que sei a população mundial está na casa dos 300000. A maioria delas está na África. Quantas pessoas nos encontramos no Brasil?

–        A colônia “lha de Vera Cruz” tem 237 sobreviventes e mais 11 nascidos após a explosão –disse estranhando a pergunta. Doc, você sabe os números até melhor do que eu porque…

–        Eu te perguntei por que havia 200 milhões de brasileiros e 6,5 bilhões no mundo. E disso você não se lembra –disse em tom sério. Mas eu vou mudar isso. Vou fazer tudo voltar como era antes. Sempre tive fé que podia mudar o mundo. Se só existem 300000 pessoas no mundo, eu acho estatisticamente difícil que outro possa fazer isto no meu lugar –fez uma pequena pausa e disse em tom irônico e ao mesmo tempo quase musical. È quase impossível que outro gênio tenha sobrevivido ao Armageddon.

–        Aquelas bombas mudaram tudo Doc, será impossível fazer a humanidade crescer e voltar a ser como antes.

–        Como disse antes, falta fé em você. Contudo, você está certo quando diz que a partir desse ponto não há volta.

–        E então…? –perguntou esperando uma resposta mais sana.

–        Voltemos ao ponto antes da esperança acabar… –falou com um sorriso

–        Como assim? –questionou intrigado.

–    Minha fé em mim mesmo me levou ao poder que mudará o mundo, reescrevendo a história –falou solene. Eu criei uma Máquina do Tempo.

 

O que fazemos em vida ecoa pela eternidade!

General Maximus em Gladiador.

 

 Fim do capítulo I.

Em breve: Capítulo II: Máquina do Tempo

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Como diria Yoda: com a palavra você está