Crônicas Ocultas do Clã DBOF: Cap 3 pt 3
|Por: M. Barreto
Capítulo 3: Quando o Sol bater na janela do teu quarto… a aventura fantástica começará
Aquele dia excessivamente quente não era muito habitual. Nada naquele dia seria habitual. O calor o fazia suar muito e aquele jogo estava tedioso demais. Estava ainda no 0 x 0. Pedro se levantou no intervalo da partida e foi até o banheiro. Uma fila gigantesca e barulhenta estava à sua frente e o jogo não demoraria a começar. Era uma grande ilusão achar que iria a um dos banheiros do Morumbi e voltaria a tempo de ver o reinício do jogo. Tinha muita pressa para voltar à sua cadeira e torcer para o São Paulo virar aquele jogo, mas sabia que estava longe disso.
Pedro era descendente de orientais, alto e com um liso cabelo negro até a testa. Era magro, mas não demasiado. Tinha um rosto simples, sempre demonstrando o que sentia e na maioria das vezes tinha um sorriso estampado nele.
O seu celular tocou. Pedro buscou em seus bolsos e ao pegá-lo olhou para o número desconhecido. Tentou lembrar de quem poderia ser sem sucesso. Estranhou não saber, mas atendeu prontamente.
– Alô? –disse Pedro.
– Alô, Pedro? –perguntou uma voz masculina do outro lado da linha.
– Sou eu, quem está falando? –falou alto tentando se sobrepor ao barulho da fila do banheiro.
A pessoa respondeu, mas ele nada conseguiu ouvir. Saiu da fila e seguiu pelo corredor procurando um local mais calmo e com recepção melhor.
– Pedro, quem está falando é o Mauricio –disse a voz do outro lado.
– Eu não conheço nenhum Mauri… –falou apressadamente, parando para pensar logo em seguida. Peraí, é você? –perguntou lembrando do amigo da Internet.
– Sou eu, o Mauricio da DBOF! –berrou do outro lado. Estou aqui em São Paulo e preciso falar com você, hoje. Do tipo, agora.
– Mas como você tem meu número? –indagou Pedro.
– Depois eu te explico –falou rapidamente Mauricio. Te vejo aqui no portão principal do estádio em 15 minutos. Venha rápido, é uma emergência!
Desligou. Pedro estava confuso. Não sabia como ele poderia ter seu número de celular. Nunca o havia passado a ninguém pela Internet. Teria sido um trote ou Mauricio realmente descobriu o seu celular?.
Foi pelo corredor até a rampa de saída. O jogo começaria em instantes, mas ver o amigo pela primeira vez seria um momento histórico. Não sabia se ficava com medo ou se ficava feliz. Não sabia quem iria realmente encontrar ou se encontraria. No entanto, ele estava lá. Sentando em um banco com a perna direita irrequieta batendo no chão. Desceu o ultimo lance de escada correndo e o chamou alto. Mauricio olhou em sua direção e acenou, levantando em seguida.
Pedro estendeu a mão para Mauricio e este a apertou, jogando o corpo para frente num forte abraço. Um grande choque cultural acontecia nesse momento em que um paulista e um carioca se conheciam, dois moderadores da DBOF. A Comunidade DBOF nunca mais seria a mesma.
Mauricio havia acabado de falar e sentou no banco. Pedro estava parado na mesma posição já havia dois minutos e não fazia menção a se mover. Muito devagar, Pedro voltou seu rosto para o amigo e perguntou.
– Pela quarta vez…. isso é sério?
– Mais do que sério, eu diria –disse Mauricio com um sorriso.
– Então o que temos que fazer? –perguntou satisfeito com a resposta anterior.
Mauricio ficou surpreso com a aceitação tão rápida de Pedro. Ele havia demorado 20 vezes mais tempo para acreditar. Não sabia se isso era um bom sinal.
– Agora nós dois vamos achar o Thiago e depois partimos para o Sul.
– Então ta… –disse Pedro conformado. Vou ligar e inventar uma historinha pro pessoal não ficar preocupado comigo e depois nós vamos.
– Ahn… certo –falou achando que aquele garoto não devia ser normal se estava aceitando tudo tão rápido assim.
Pedro se afastou e fez a ligação. Mauricio ficou esperando impaciente. Odiava ficar esperando. Olhou novamente o endereço da escola de Thiago. Logo, Pedro retornou e foram andando juntos na direção do ponto de ônibus.
Mauricio achou a cidade de São Paulo bonita. Sempre imaginou que encontraria um céu esfumaçado e pessoas ranzinzas e chatas. Pedro perguntava várias vezes as mesmas coisas e ele sempre repetia as mesmas respostas. Entraram no ônibus e foram conversando até o destino. Pedro disse que pegaria o dinheiro que estava em sua conta no banco, mas que seria pouco para pagar tantas viagens de avião. Mauricio sentiu novamente medo de que por falta de dinheiro o mundo acabasse.
Thiago estaria buscando seu diploma de segundo grau naquele dia, de acordo com que o Doutor havia enviado.
Desceram no ponto mais perto e seguiram pela longa rua até a escola. O lugar ficava de costas para uma pequena favela. Contudo, parecia um lugar calmo. Parecia. Quando os dois estavam a cem metros da escola, Mauricio ouviu um barulho alto de tiro. Pedro não acreditou que fosse. Pessoas corriam para se abrigar e viam em direção aos dois como animais fugindo de um predador quase fazendo os dois serem lançados ao chão. Mais tiros foram dados,
Ficaram atrás de um parede de loja estáticos. Encontrar Thiago em meio a tantas pessoas não seria tarefa fácil. Ele podia já estar longe, ou pior.
– Mauricio, será que ele está bem? – disse Pedro gaguejando um pouco. Quer dizer, ele não vai morrer nessa confusão né?
– Não se preocupe, Pedro –falou calmamente. Daqui há 10 todos estaremos mortos mesmo.
– Não é hora de brincar com isso! –se exaltou Pedro. Ele pode estar ferido ou morto!
– Claro que não está morto – Mauricio respondeu calmamente. O Doutor disse que deveríamos encontrá-lo aqui. A nossa linha de tempo não é tão diferente da dele, ou seja, no mundo dele esse tiroteio aconteceu também. E o Thiago sobreviveu a ele.
– Ah que alivio –disse Pedro soprando ar.
– Mas não tenho tanta certeza quanto a nós… –disse olhando para a pequena distancia que os separava da escola.
– Como assim? –indagou o outro.
– Bem, nós não deveríamos estar aqui e tudo o que fizermos pode e vai alterar o macro-plano do futuro –Mauricio olhou para o amigo que parecia não entender nada. Em resumo, nós podemos morrer aqui ou talvez acabar matando o Thiago sem querer. Tudo depende das ações que fizermos.
– Você me dá medo, mano.
– Eu sei –respondeu com um largo sorriso.
Eles olharam a escola. Viram dois homens armados saindo de dentro do prédio e em seguida o local começou a encher de uma densa fumaça cinza-escura. A escola estava pegando fogo e Thiago podia estar lá dentro.
Mauricio saiu correndo na direção do fogo, Pedro tentou pará-lo, mas foi inútil. O carioca parou em frente às chamas e gritou alto o nome do outro amigo.
– Thiago!
– O que você está fazendo? –perguntou Pedro enquanto se aproximava.
– Temos que achar o Thiago, logo –falou Mauricio procurando a porta de entrada do local.
– Você mesmo disse que ele deve estar bem!
– E está, mas não sei onde estará depois de agora e se ele chegar em casa, eu não sei se os pais dele vão deixar ele viajar numa aventura suicida –falou rapidamente dando algumas gaguejadas. Sacou?
– Entendi -Pedro parecia compreender a atitude do amigo agora. E o que vamos fazer agora?
– Eu vou procurar lá dentro e você vê se o acha aqui fora, certo? –falou Mauricio correndo para a porta que estava entreaberta.
– Você é maluco –disse Pedro baixinho.
Pedro correu pelo pátio da escola chamando por Thiago. Estava com muito medo. Dezenas de tiros eram dados a cada minuto e faziam-no tremer. Mas não há uma alma viva que não sentisse medo naquela situação aterradora. Todavia, isso dava ainda mais forças para Pedro. A polícia chegara e a troca de tiros estava cada vez mais intensa. E nada de Thiago. Uma multidão de bandidos desceu da favela e pioraram o conflito para o lado dos Policiais. Uma escola em chamas ao fundo. No meio de tudo isso, um jovem gritava chamando por alguém.
No interior do colégio, Mauricio tampava o rosto com uma camisa e seguia chamando pelo amigo. Havia muitas pessoas e ele tentava parar para ajudar a todas. Indicava o caminho da saída e dava dicas para se proteger da fumaça e do fogo. Até que ele parou um momento e olhou em volta. Ao havia sentido nisso, pois se ajudasse aquelas pessoas ou ele ou Thiago iria morrer, então todas pessoas do mundo iriam morrer. Desde então, decidiu não mais ajudar ninguém.
– Mesmo que isso parta meu coração e seja contra meu juramento de médico, tenho que ter tenacidade –pensou.
Pedro subiu em uma lojinha de esquina e se segurou no poste que havia em cima dela, como um pirata a visualizar um tesouro, encontrou Thiago. Estava no alto da escola no ponto mais alto do prédio, junto de muitas outras pessoas. Estava completamente ilhado. Pegou o celular e procurou o numero de Mauricio. Chamava e ele não atendia. Thiago não o ouviria dali, não adiantava gritar. Mauricio atende.
– Achou ele? –Mauricio já foi logo perguntando aflito.
– Achei sim, ele está no alto do colégio –Berrou Pedro.
– Saquei, estou bem do lado da escada de emergência –falou olhando pela janela. Fui.
Desligou o celular e o colocou no bolso. Estava ficando tonto por ter inalado muita fumaça. A camisa estava protegendo muito, mas tinha seus limites de filtração. Saiu pela janela e tentou alcançar a escada de emergência. Estava com meio corpo para fora. Esticou-se e agarrou a escada com uma das mãos, girou o corpo e agarrou com a outra mão. Saiu por completo, ficando pendurado. Conseguiu com muito esforço dar impulso com os pés e subir para os degraus. Tirou a camisa do rosto, estava ficando sufocado. Respirava com muito esforço. Ouviu metal ranger. Viu os pés da escada balançarem e o chão tremer. Só agora havia percebido que a armação de metal da escada estava cedendo. Em pouco tempo cairia.
Subiu correndo e viu muita gente tentando descer como podia. Não havia sinal de Thiago. Estava ofegante demais, sua cabeça girava, sua visão ficou embaçada e sentiu seus pés cederem como os pés da escada. Estava no meio de todos, quase caindo, reuniu forçar, levantou e então brandiu alto uma ultima vez antes de desmaiar.
– Thiago HB!!!
Continua…
Visite-nos no Gokut, digo, orkut.